O que fazer diante dos impactos do Covid 19 na saúde mental?

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que aproximadamente 1 bilhão de pessoas vivem com transtorno mental, 3 milhões morrem todos os anos devido ao uso nocivo do álcool e uma pessoa morre a cada 40 segundos por suicídio. Com os reflexos da pandemia, esses números devem piorar. O que representa este momento nas nossas vidas? Como estamos sendo mobilizados por isso?

Estudos mostram que, durante as epidemias, o número de pessoas cuja saúde mental é afetada tende a ser maior do que as pessoas atingidas pela infecção propriamente dita. Isto porque as incertezas e o medo, inclusive de contaminação, atacam os infectados e todos a sua volta, gerando impactos psicossociais e econômicos incalculáveis.

Estamos todos atônitos com a pandemia que atingiu em cheio nossos lares, estudos, trabalhos e a vida cotidiana, levando-nos a uma necessidade sem precedentes de adaptação e cooperação. Ainda estamos nos reinventando em vários aspectos da vida, o que nos traz sentimentos dos mais diversos: solidão, angústia, fragilidade, impotência.

Antes mesmo da pandemia do novo coronavírus, a OMS já alertava que o Brasil vivia uma epidemia de ansiedade. Os números não eram nada animadores: 9,3% dos brasileiros (cerca de 19,4 milhões) sofriam com o problema e faziam com que o Brasil ocupasse o primeiro lugar da lista de países mais ansiosos do mundo.  E já se estimava que 20% da população teve ou terá depressão, sendo a doença psiquiátrica com maior prevalência no Brasil.

O isolamento, o medo, a incerteza, o caos econômico e político, podem causar sofrimento psicológico. A saúde mental e o bem-estar de sociedades inteiras foram e continuam sendo seriamente impactados por esta crise e deveriam ser prioridades a serem abordadas pelos governantes, em programas de saúde pública e campanhas de conscientização.

Diante disso ficam os questionamentos: como preservar a saúde mental nesses momentos críticos? Estamos com a mente abastecida para o que está ocorrendo e o que está por vir? É importante lapidarmos nossa consciência com relação ao que nos aguarda. A saúde mental não pode ser uma preocupação para depois.

Nós não temos ideia de quando poderemos voltar a uma vida mais ou menos parecida com aquela que tínhamos antes. A maneira como vivemos e a maneira como nós convivemos já não é a mais a mesma. Isso significa que este é um momento de profunda incerteza. Junto com a incerteza vem o medo, e do medo vem as angústias e, sobretudo, a ansiedade.

Quando estamos ansiosos, uma das coisas que mais trazem calma é aceitar que nossa agitação pode ser completamente normal. A partir daí, é possível administrar nossos sentimentos em vez de negá-los ou lutar contra eles. Acima de tudo, não devemos nos preocupar por estarmos preocupados. No atual momento, seria muito estranho não sentir um pouquinho de pânico. Em algumas circunstâncias, ficar meio apavorado é sinal de sanidade, e não há dúvidas de que a sombra de uma pandemia global basta para justificar algum nível de inquietação.

Mas, há algo que pode ajudar a melhorar nosso ânimo de forma incomensurável: a ousadia de sermos honestos com os outros a respeito do que estamos sentindo. Na maior parte do tempo, sustentamos uma fachada que demonstra grande coragem, dizemos sempre que tudo está bem e que estamos ótimos. Acreditamos que essa postura nos tornará benquistos.

Lembre-se também de visitar o amigo do espelho. Olhe pra ele, bem nos olhos, todos os dias e perceba se tem respeito pelo que vê. Ninguém pode tudo. Ninguém consegue ser forte o tempo todo. Tudo bem se não está tudo bem.

Adaptação e cooperação passam a ser a mola mestra, aquilo que nos leva a um novo patamar de humanidade; ou, ao contrário disso, ao colapso. Ou as nações se unem para resolver as grandes questões da atualidade, tais como as pandemias, a fome, a violência, as ondas imigratórias, as questões climáticas, entre tantas outras, ou todos sairão perdendo.

Ou as empresas se auxiliam na busca por informações relativas a tecnologias e pesquisas, ou não haverá condições básicas de vida e sobrevida para bilhões de pessoas. Ou os governos se apoiam, ou novas ondas de nacionalismo irrefreado podem deter muitos dos avanços civilizatórios conquistados nos últimos séculos.

Não nos faltam problemas ou desafios, mas, juntos, podemos construir novas aprendizagens, possibilidades e oportunidades. Vamos em frente na busca de novas soluções para estes novos tempos.

Rafael Falco

Psicólogo – Colégio Jandyra Limeira