Mês do Orgulho LGBTQIAP+: a importância da inclusão no mercado de trabalho

“Eu me sinto privilegiada por estar empregada, ter registro na carteira de trabalho e nunca ter sofrido agressão física. Mas basta olhar para o lado e ver que a minha realidade é bem diferente da maioria”. A afirmação é da transexual Bárbara de Souza, de 23 anos, que há 8 meses trabalha como analista de fone na Konecta, unidade de Limeira.

A trajetória profissional de Bárbara nem sempre foi privilegiada como ela mesma relata. O primeiro emprego, aos 19 anos, foi em uma rede de fastfood quando ainda não tinha passado pela transição. Na época, ela era Lucas de Souza, mas não se reconhecia no corpo de homem.  Saiu do emprego e foi então que o preconceito velado começou. Bárbara chegou a ficar um ano desempregada. “Uma vez mandei currículo em uma loja e a pessoa disse que eu não seria contratada por ser gay, outra vez fiquei três meses na experiência e me demitiram porque eu não me enquadrava nos padrões. Foi uma fase difícil”, lembra.

Além da falta de oportunidades para travestis e transexuais, há uma parcela de pessoas LGBTQIAPN+ muito pequena nos postos de trabalho. Dados levantados pelo Fórum de Empresas e Direitos LGBTQIA+, em 51 empresas, revelam que 61% delas empregam pessoas transexuais – outras 16% responderam que têm líderes trans. No entanto, na maioria dessas empresas, trabalhadores e trabalhadoras transexuais não chegam a 1% do quadro de funcionários.

Bárbara sabe que está na contramão desses números e celebra o fato de conseguir ter o nome trans no sistema e no crachá da empresa em que trabalha. “Pode parecer uma bobeira para alguns, mas não ser chamada pelo nome morto representa muito para mim”, diz ela que sonha em fazer faculdade de administração ou recursos humanos e seguir carreira dentro da Konecta.

TRANSIÇÃO E PRECONCEITO

“Desde pequena eu sabia que era diferente, mas foi na fase adulta, com a ajuda de uma amiga, que eu entendi que era mulher em um corpo de homem. Decidi fazer a transição e um novo mundo se abriu para mim”, lembra.

A parte mais desafiadora desse processo foi contar com o apoio da família que, segundo ela, é extremamente conservadora. “Quando decidi fazer a transição parte da minha família não entendeu e eu tive que explicar que eu era a mesma pessoa que eles conheciam, com o mesmo caráter e educação”, conta.  

Bárbara é discreta e bem reservada. Ela conta que entende o desconforto da família, mas não admite ser tratada de forma desrespeitosa por ninguém. “Uma vez, ao sair de um banheiro público, um homem veio me ameaçar e dizer que se eu entrasse novamente no banheiro das mulheres eu teria que arcar com consequência. Eu abaixei a cabeça e saí quieta, chorando por dentro. Desde então eu não entro em banheiro público sozinha, sempre peço para uma amiga me acompanhar”, desabafa.

No Mês do Orgulho LGBTQIAP+ o que Bárbara espera é que as empresas entendam a importância de ter um ambiente diverso e que ofereça, de verdade, inclusão para as pessoas da comunidade. “Quando as empresas entenderem que explorar as nossas potencialidades vai contribuir para o sucesso delas, certamente teremos um mercado de trabalho mais justo. O meu sonho é que o mundo pare de nos enxergar com indiferença. Temos pai, mãe, filhos, pagamos nossos impostos. Se dê a oportunidade de nos conhecer melhor e tire essa primeira impressão que é tão equivocada”, deseja Bárbara.