Embora saibamos que o esporte seja uma importante ferramenta para inclusão social, no caso das mulheres, ele também vem sendo um espaço de busca de igualdade de direitos e ascensão social. Porém esporte feminino ainda há muito a fazer para conseguir uma igualdade real.
A história nos mostra que esporte nunca foi considerado “coisa de mulher”. Desde os tempos mais primórdios, quando os gregos criaram os Jogos Olímpicos da Antiguidade, elas já eram excluídas da competição, pois não poderiam participar dos jogos os estrangeiros (os “bárbaros” segundo a mitologia grega), os escravos e as mulheres.
A primeira Olímpiada com a participação feminina ocorreu em 1900, e em apenas duas modalidades: tênis e golfe.
No Brasil, o decreto-lei 3.199/41 proibiu as mulheres de praticarem esportes “incompatíveis com a sua natureza”, como o futebol, a luta, e muitos outros. Somente em 1979 ele foi revogado. Em 1991, sessenta e um anos após a primeira edição masculina, foi organizada a primeira Copa do Mundo Feminina. E apenas em 2012 as mulheres puderam finalmente disputar todas as modalidades olímpicas que os homens disputavam.
Como vemos, no esporte as mulheres foram orientadas por muito tempo a ficar “no lugar delas”. Frase que, infelizmente, gente ainda insiste em dixer até hoje.
No início de setembro de 2021 vimos o líder cultural do Talibã dizer que o esporte feminino é algo “inapropriado e desnecessário” ao se referir sobre o críquete, que é um esporte muito comum na Ásia. Semelhante com o jogo de “taco ou betes” aqui no Brasil. Depois do futebol, ele é considerado um dos esportes mais populares do mundo.
Em que pese os avanços, a luta pela inclusão da mulher no esporte segue com enfrentamentos e reivindicações. Tabus como a menstruação e gravidez ainda são alvos de preconceito no mundo do esporte. Além disso, os assédios e sexismo ainda imperam nesse ambiente normalmente liderados por homens.
No Brasil, vimos em janeiro de 2021, o presidente Jair Bolsonaro fazer críticas ao banco de questões do Enem, ao tratar sobre a desigualdade salarial entre homens e mulheres. Seguindo a linha de exemplos presentes no cotidiano dos estudantes, a questão comparava os salários pagos para Neymar e Marta, principais nomes do futebol brasileiro e foi alvo do comentário “O banco de questões do Enem não é do meu governo, é de governos anteriores. Tem questões ali ridículas ainda, comparando mulher jogando futebol e homem. Por que a Marta ganha menos que o Neymar? Não tem que tem comparação. O futebol feminino ainda não é uma realidade no Brasil.”
A questão é que não se pode enfrentar um tema de discriminação por gênero com naturalidade, há que se esclarecer que existem rendas que são geradas por equipe (direito de transmissão, marketing e patrocínio, prêmios etc.) mas, se excluirmos estas, ainda assim existe uma discrepante diferença salarial e de oportunidades no mercado de trabalho em especial o desportivo para as mulheres.
A Confederação Brasileira de Futebol em setembro do ano passado decidiu igualar o pagamento de diárias e premiações para os jogadores e jogadoras das seleções brasileiras masculinas e femininas, em um movimento pela igualdade de gênero.
Vemos um movimento feminista consolidando a paridade de gênero, mas é preciso um compromisso de todos em lutar para garantir que mulheres tenham as mesmas oportunidades que homens, o tema inclusão precisa de visibilidade, com ações afirmativas para um crescimento sustentável das mulheres no mercado profissional esportivo.
A história nos mostra que a discriminação de gênero no esporte é estrutural, pois reflete um problema social e cultural mais amplo, que inclui conceitos pré-estabelecidos a respeito da capacidade física e intelectual das mulheres, a respeito dos lugares que elas tradicionalmente devem ocupar. E é por isso que precisamos de neutralidade política e religiosa, inclusive com a criação de políticas públicas e outras formas de incentivo para atingir a igualdade e vedando toda e quaisquer formas de discriminação.
Talita Garcez
Advogada
Especialista em Direito Desportivo